quinta-feira, 30 de abril de 2009

Farinha do mesmo saco

Pergunta: Como a espiritualidade vê a corrupção no Brasil e qual a perspectiva dela em relação ao nosso país?

Resposta: Um ditado popular da idade média dizia que quando um rei iletrado assume o poder é o mesmo que coroar um jumento.

Quem está respondendo aqui é o nosso amigo Rochester, ele não está se referindo ao presidente da Republica do Brasil, ele está se referindo basicamente a quase todos os líderes mundiais no que se refere ao aspecto que abordaremos a seguir.

Há um problema profundo, não de cultura, mas de ignorância da parte do ser humano e os nossos líderes bem ilustram a questão. Os prepostos das principais organizações planetárias, não só os países, mas principalmente as macro forças que realmente comandam o destino do planeta, são, na sua maioria, absolutamente ignorantes em relação ao pano de fundo cósmico-espiritual que envolve a vida terrena. O destino da Terra é guiado pela estupidez dos que votam e dos que são votados; dos que são escolhidos, dos que se auto-escolhem, isso nas regiões do mundo onde ainda se pode votar. Pior ainda é nas ditaduras, detestáveis sob todos os aspectos, posto que anacrônicas e criminosas. Sob a perspectiva espiritual nada há de surpresa nessa questão, e nem mesmo de interessante em observar essas questões, até porque dos ambientes espirituais a estupidez humana no trato com a vida é percebida de pronto, além de muitas outras coisas que de lá se percebe as quais na Terra jamais serão percebidas.

Para a espiritualidade, diferente do que ocorre para os que vivem na Terra, as coisas não permanecem ocultas quando alguém comete algum equivoco; aos olhos do mundo normalmente o "errado" ou "quem errou feio" não aparece, mas para a espiritualidade, tudo fica muito claro. Ela não participa da surpresa que os brasileiros estão tendo; não participa da surpresa que outros irmãos nossos de nacionalidades diversas estão tendo, porque simplesmente não há surpresas, somente lamentação, porque de lá se percebe tudo e sabe-se, com boa dose de probabilidade, onde tal problema represado vai desaguar.
Porém é dever da humanidade pelo menos saber contar os números de mortos provocados pela estupidez das atitudes humanas. No século XX, segundo aqui o nosso amigo está registrando, os nossos irmãos em espécie homo sapiens, Mao Tsé Tung, foi responsável por cerca de mais 70 milhões de mortes; Hitler, cerca de 50 milhões de mortes; Stalin, algo em torno de 30 milhões. Somando a responsabilidade desses três homens, mais as contribuições de um Idi Amim, Saddam Hussein, dentre outros, para o cadafalso moral da humanidade no século XX, temos a absurda marca de quase 200 milhões de assassinatos em um século.

Nesse sentido, diz Rochester, Pol Pot, Saddam Hussein e Idi Amim, que "só mataram cerca de 10 milhões de pessoas" parecem apenas meninos travessos.

Nós costumamos "demonizar" Hitler, Stalin, Mao Tsé Tung, mas esses homens sozinhos nada fariam. Hitler teve toda uma assessoria de homens e mulheres das melhores famílias da Alemanha, que achavam certo, naquela época, fazer o que estava sendo feito. Com Mao Tsé Tung e Stalin aconteceu o mesmo.

Lavrenti Beria escreveu um livro transformando Stalin no grande ídolo do "Cáucaso", e de vergonhoso bajulador com um simples livro tornou-se o homem mais importante do governo de Stalin, passando a ser o homem que apontava quem deveria ser ou não trucidado pelo sistema.

Todas as cabeças pensantes da União Soviética foram liquidadas em duas décadas e a crise hoje que se vê na Rússia (segundo Rochester), deve-se exatamente à falta de pessoas inteligentes, pois todas foram aniquiladas pelo sistema Soviético. O que se fala em termo de Rússia, pode se falar em relação a qualquer país, cujo regime ditatorial se fez presente ou ainda se faz presente.

Na Rússia de hoje, a população diminui cerca de cinco milhões de habitantes ao ano; se continuar desse jeito, somando-se ao problema de outros países que também sofrem os efeitos do mesmo problema, daqui a 10 anos começará um déficit populacional na Europa, em cerca de 30 milhões de pessoas-ano, sem contar as mortes acidentais.

A maquina da morte que se estabeleceu no mundo, não foi só a patrocinada pela estupidez de Mao Tsé Tung, Hitler, Stalin, Saddam Hussein e Idi Amim, somos todos nós que financiamos esse tipo de coisa, basta ver a nossa apatia diante do caos planetário, o "anestesiamento" das pessoas perante o sofrimento alheio, a nossa criminosa incapacidade de sentir indignação, pois já achamos "normal" o que é uma aberração, enfim, a nossa conivência com a degradação moral da humanidade, isso sem nos referimos aos "fãs de carteirinha" desses que ainda são mais "doidos" do que a média humana.

Então, respondendo diretamente à pergunta que nos foi feita, olhar para a questão que ora ocorre no Brasil, isso não é problema, isso não é surpresa, isso vem ocorrendo há muito tempo não só no Brasil, mas no Paraguai, na Bolívia, como ocorre em todo e qualquer país da América Latina, como está ocorrendo em todos os paises da África, em quase todos os paises pobres da Ásia, etc e tal. Esse é um problema da humanidade, o problema, chama-se "o ser humano" que decaiu a ponto tal de cegueira e estupidez diante dos fatos que transformou a vida em algo aparentemente absurdo e impossível de dar certo. Ou se investe no ser humano, ou nada disso é resolvido. Criamos a cultura de produzir sistemas que disputam uns com os outros a hegemonia da eficácia, ou seja, produzimos os tais "ismos" aos quais já nos referimos em outras reuniões: comunismo, socialismo, capitalismo, monarquismo. Aí também entram as religiões: catolicismo, espiritismo, protestantismo, islamismo. Nós ficamos brigando em torno dos "ismos da vida", mas nenhum funciona razoavelmente, porque quem faz esses "ismos" funcionar é o ser humano e o ser humano, com a marca da sua cegueira e ignorância que o transforma em agente estúpido da sua própria derrocada existencial, incompetente para arquitetar a própria felicidade.

O que fazer então? Investir no ser Humano, não há outra alternativa e nem muito menos existe fórmula milagrosa para resolver os problemas por aqui. Mas qual a política do mundo, qual a discussão política de algum estado que se preocupa com investimento no ser humano? Em que país, qual a candidatura de algum presidente, ao longo das ultimas décadas, que apresentou tema pontual preocupado em investir no ser humano com vistas ao melhoramento do nível da vida planetária? Segundo Rochester, não há nenhuma.

Enquanto isso não for feito, enquanto a população mundial não perceber o óbvio, nada vai funcionar direito aqui na Terra, mesmo depois da visita de Jesus, mesmo a Terra voltando a conviver com seres de outros orbes; enquanto o ser humano terráqueo não perceber o óbvio e começar por ele próprio, a perceber e dar testemunho dessas verdades maiores da vida, tudo sempre será extremamente estúpido por conta da ignorância humana.

Segundo Rochester, não há surpresa na espiritualidade, nada há sequer para se aplaudir ou vaiar, pois, conforme Shakespeare descreveu nas suas obras, notadamente em Hamlet, ele mostra a incompetência de um rei em lidar com o poder e, sendo o rei é um livre pensador, como foi o caso do príncipe que herdou o reinado na narrativa de Shakespeare, ele se perde o entre pensar bem e ter de atuar de forma dolorosa para manter o reino funcionando, pois a massa humana é tão doida que qualquer príncipe bem intencionado haverá sempre de se corromper ou de violentar o próprio pensamento, para poder controlar e satisfazer as massas.

No final das contas de quem é a culpa, da massa ou do príncipe? O grande problema do drama humano, traduzido em muitas das obras clássicas da humanidade, resume-se exatamente em: o ser humano jamais aprendeu a lidar com suas próprias paixões, com o dinheiro, com o poder, com o prestígio, com o amor. Então o problema não é de fulano de tal, o presidente tal, ministro tal, o problema é nosso, é da espécie homo sapiens; nós precisamos ter consciência de que é assim, de que não é Mao Tsé Tung, não é Lula, não é Bush, não é Tony Blair, não é fulano, não é beltrano o culpado de coisa alguma; esses são os grandes responsáveis pelos atuais equívocos, pela suas posturas inconseqüentes e pela distância imprudente que os seus discursos costumam ter do que se tem como sendo a verdade dos fatos, o que revela ou uma tendência a faltar sempre com a verdade ou simples incompetência pessoal para enxergar o mundo a sua volta. Mas equívocos de todos os naipes sempre ocorreram ao longo da história humana, e o que estamos vivendo hoje é simplesmente mais uma página desse triste drama.

De nada, portanto, adianta "demonizar" essas pessoas se nós não temos a ninguém para aplaudir, se nós não conseguimos sequer aplaudir a nós próprios, como cidadãos distanciados do poder, mas que também nos corrompemos e fazemos corromper com pequenas atitudes. Qual a diferença? Qual a estrutura que uma sociedade pode ter se, na sua base, no anonimato das vidas dos cidadãos discretos, ocorrem corrupções também de todo naipe? Essa é a tônica da existência humana terrena, e nós, na espiritualidade, literalmente percebemos isso em todos os quadrantes do planeta. E o pior, quando aí estamos somos co-participantes desse drama (quem estava dando a mensagem era Rochester).

Então, voltando ao assunto especifico da pergunta, abordar a corrupção brasileira é somente um aspecto de uma questão mais deprimente; em termos do que se observa da espiritualidade, é um detalhe a mais é uma questão a mais para se lamentar.

Como cidadão (e agora quem fala sou eu), eu acho ótimo que isso tenha vindo à tona, porque isso acontecia há muito tempo e muitos sequer percebiam. Na verdade, as máscaras já tinham caído há muito tempo. Afinal de contas, quem de nós aqui nessa sala (falando dos encarnados) acredita em quê, em termos de políticos? Se formos tentar lembrar dos últimos políticos nos quais votamos, talvez até consigamos - ou será que não? Porém, nenhum de nós vai saber dizer o que o político em que nós votamos fez ou deixou de fazer.

Devo dizer que me lembro em quem votei para deputado estadual e federal; devo dizer que já tive o prazer moral de chegar para uma dessas pessoas e dizer: votei em você, mas já não voto mais, estou avisando! Pretendo um dia avisar a outra pessoa em quem votei. Acho que além de um direito é quase um dever de cidadania, pela forma como as coisas estão. Mas não estou - e nem os espíritos aqui presentes - aconselhando a quem quer que seja agir dessa ou daquela forma. Estimo apenas que cada pessoa aja de algum modo para sair da inércia política em que se encontra a sociedade planetária, notadamente aquelas que pertencem ao chamado terceiro mundo.

Há um outro político em quem costumo votar por amizade e por admiração pelo que ele faz e tenta fazer, mas, votar somente por amizade ou interesse é atitude subdesenvolvida da nossa parte. Nós não deveríamos votar por amizade, nós não deveríamos votar por troca de favores, nós deveríamos votar por questões de compromissos em torno de princípios filosóficos. Enquanto nós não fizermos isso faremos o quê?

Votei em Lula quatro vezes seguidas. Na época de Collor, votei em Mario Covas, Covas não ganhou e houve o segundo turno, Fernando Collor e Lula. Eu me lembro, deitado numa rede, no dia anterior à votação eu pensava: meu Deus! Fiz parte de uma geração que brigou o tempo inteiro para ter o direito de votar. Chegou a hora de votar e não sei em quem votar desses dois. A pergunta que eu me fiz e que foi decisiva naquele momento foi: não tenho nenhum motivo para votar em Collor, também não tenho nenhum motivo para votar em Lula, então eu vou fazer o caminho inverso. O mundo está complicado desse jeito é por causa de figuras do tipo Collor ou de Lula? Aí disse para mim mesmo: do tipo Collor. Então em Collor não voto! Eu tenho duas opções, ou anulo, ou voto no Lula. Então votei no Lula, como também votei em FHC (no seu primeiro mandato) e no Lula em outras oportunidades e nessa última que o elegeu para presidente, o que me envergonho profundamente, pois senti-me fraudado pelas suas atitudes e posturas que não conseguem honrar o cargo que lhe foi delegado pelo voto. Quando votei em FHC o sentimento não foi diferente; foi, também, de frustração!

Sempre dizia para mim mesmo: não embarco em avião cujo piloto não tivesse preparado para pilotar. Ser presidente de um país é muito mais complexo que pilotar um avião e o terrível foi ter que votar em alguém que jamais se preparou para as responsabilidades do cargo. O que dizer? Eu não posso reclamar, eu votei no sujeito, eu posso reclamar dele, eu não posso reclamar da situação, eu acho que é bom que venha a tona, é bom que nós aprendamos com os próprios erros; afinal, a democracia nos permite renovar sempre a aprendizagem. Que seja. Ditadura nunca mais! Basta!

Infelizmente, com a ajuda do PT, as novas gerações estão se transformando em descrentes na política, o que é lamentável. Os desmandos dos que fazem o PT contribuíram, decisivamente, para que no Brasil e na América Latina, as novas gerações não acreditem e não queiram perder tempo estudando os ideais de esquerda, o que nos torna cada vez mais ignorantes.

Precisamos nos aproximar do processo político; precisamos desesperadamente estar bem informados para poder nos posicionar; precisamos valorizar os nossos votos; valorizar a nós próprios; nenhuma sociedade honesta produz políticos corruptos e se os produz, logo os tira. Mas também nenhuma sociedade corrupta haverá de produzir políticos honestos. Um pé de goiaba não dará manga de jeito nenhum.

Claro, devemos cobrar responsabilidade dos políticos, mas nós também devemos cobrar a nossa responsabilidade, a de cada um de nós.


Jan Val Ellam

Grupo Atlan - Natal, 11.07.2005 –
www.atlanbr.com.br
Transcrição - Luiz Carlos.